
Bolsonaro tinha a expectativa de atrair 1 milhão de pessoas em Copacabana
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) manteve sua pretensão de participar da eleição de 2026, apesar de estar inelegível, negou que planeje deixar o Brasil e declarou que há muitas lideranças prontas para ocupar seu lugar. Ele também enviou diversos recados sobre o próprio futuro político.
As declarações ocorreram em ato no Rio de Janeiro, onde reforçou seu pedido de anistia para os condenados pelos atos de 8 de janeiro — algo que, futuramente, poderia beneficiá-lo — e afirmou que será um problema para seus opositores “vivo ou morto”.
A mobilização aconteceu em meio ao rápido avanço da denúncia que envolve o ex-presidente e mais 33 pessoas, acusadas de participar de uma conspiração golpista em 2022.
A Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) iniciará no dia 25 a análise da acusação feita pela Procuradoria-Geral da República, decidindo se os denunciados vão virar réus. Não por acaso, o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, foi um dos principais alvos das críticas na manifestação.
Sob um forte calor em Copacabana, o ato deste domingo ficou bem aquém do público de 1 milhão de pessoas estimado por Bolsonaro. De acordo com cálculo do Datafolha, cerca de 30 mil pessoas estavam presentes enquanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), discursava ao lado de Bolsonaro no carro de som. Em um dos apartamentos próximos, havia um cartaz com os dizeres “sem anistia” nas janelas.
Outros governadores presentes foram Cláudio Castro (PL-RJ), Mauro Mendes (União Brasil-MT) e Jorginho Mello (PL-SC). Vestindo a camisa azul da seleção brasileira, Tarcísio, possível nome para a disputa presidencial, fez críticas ao governo Lula.
“Ninguém aguenta mais o arroz caro, a gasolina cara, o ovo caro. Disseram que teríamos picanha, mas não temos nem ovo. Se está tudo caro, volta Bolsonaro”, declarou.
Sinalizando à base bolsonarista, ele criticou as penas aplicadas aos condenados pelo 8 de janeiro, mencionando de forma irônica a cabeleireira Débora Santos, presa após pichar com batom a estátua “A Justiça”, em frente ao STF.
“O que fizeram? Usaram batom? E vivemos em um país onde traficantes estão soltos e quem assaltou a Petrobras voltou à cena política”, completou.
Sem mencionar nomes, Tarcísio questionou “qual a razão de afastar Jair Bolsonaro das urnas”. “Estão com medo de perder? Sabem que vão perder?”, sugeriu.
Como divulgado pela Folha, Tarcísio informou a aliados que estaria disposto a concorrer à Presidência em 2026, caso Bolsonaro solicitasse, mas pretende demonstrar lealdade ao ex-presidente até o fim.
Por ora, o ex-mandatário segue insistindo em ser candidato, apesar de estar impedido judicialmente em duas ocasiões pelo TSE — uma condenação por críticas às urnas em reunião com embaixadores, e outra por uso político do 7 de Setembro.
No discurso do último domingo, Bolsonaro apontou as duas frentes nas quais ele aposta para tentar se tornar elegível no próximo pleito.
Uma delas é o próprio TSE, que em 2026 será presidido pelo ministro Kassio Nunes Marques, indicado ao STF pelo ex-presidente. Sem citar o nome de Nunes Marques, Bolsonaro comentou que a eleição de 2026 “será conduzida com isenção”.
A outra frente é a anistia aos condenados pelos atos do 8 de janeiro. O objetivo é criar um ambiente político favorável para, futuramente, reverter a inelegibilidade de Bolsonaro.
No evento, ele disse ter o apoio de Gilberto Kassab, presidente do PSD, para aprovar o perdão aos condenados. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL), líder do partido, declarou que vai apresentar nesta semana um pedido de urgência para votar o projeto de anistia.
Embora mantenha seu nome no jogo para 2026, o ex-presidente afirma não ter obsessão pelo poder e garante que há herdeiros políticos preparados.
“Meu ciclo vai se encerrar um dia. Mas estamos deixando várias pessoas que podem me substituir no futuro. A esquerda não tem nenhuma liderança”, declarou. “Se acontecer alguma covardia comigo, continuem na luta”, pediu.
Bolsonaro ressaltou ainda que “eleição sem Bolsonaro é negar a democracia no Brasil” e pediu auxílio para conquistar maioria no Congresso. “Me deem 50% da Câmara e 50% do Senado, que eu mudo o destino do nosso Brasil”, disse.
Ele também atacou o governo Lula e comparou seus ex-ministros com os atuais ocupantes de cargos de primeiro escalão.
“Se tirar das mãos do PT a falsa bandeira de defesa da democracia, o PT deixa de existir. Eles não podem apresentar resultados para vocês. Nem para alimentar os mais pobres. Nem isso podem oferecer agora”, criticou.
Em sua intervenção, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) prometeu acabar com o “alexandrismo”, mas foi o pastor Silas Malafaia, organizador do evento, quem fez as críticas mais duras a Alexandre de Moraes, chamando-o de “criminoso e ditador”.
No desfecho, Malafaia defendeu “um caminho de paz e conciliação, pois uma prisão [de Bolsonaro] não é boa para ninguém”. “Ministros do STF, senadores, deputados: o Brasil é um país pacífico. Não vamos chegar a lugar algum se Bolsonaro for preso”, concluiu ele.