
Livro da historiadora Andréa Queiroz revela a personalidade do desenhista que virou um dos mais importantes intelectuais do país. Lançamento a 6 de dezembro, no Empório e Cafezin Trem das Gerais, em Vila Isabel, no Rio
Influente na imprensa e na cultura do país, o jornalista, escritor e desenhista Millôr Fernandes é tema do livro “De Milton a Millôr: a trajetória de um jornalista ipanemense, pasquiniano e sem censura”, da historiadora Andréa Queiroz. O lançamento pela editora Appris será no dia 6 de dezembro, às 14h, no Empório e Cafezin Trem das Gerais, em Vila Isabel.
Resultado de uma pesquisa que atravessa seu doutorado e anos de investigação, a obra reconstrói a infância de Milton Viola Fernandes no subúrbio e acompanha sua transformação em Millôr Fernandes, figura central no jornalismo brasileiro. “O que me interessou desde o início foi entender como um menino órfão do Méier se tornou um dos intelectuais mais importantes do país sem passar pela universidade e sem se curvar aos mecanismos formais de legitimação”, afirma Andréa.
A ideia de transformar a tese em livro surgiu depois que um dos achados da pesquisa de Andréa foi citado pela imprensa, destacando a atualidade de um texto de Millôr publicado há 56 anos na Revista Pif Paf. “Percebi que havia uma urgência em tirar esse estudo do campo acadêmico e compartilhar com um público mais amplo. Millôr segue atual e necessário”, explica.
Com abordagem histórica e analítica, o livro percorre os diferentes períodos da atuação de Millôr, de O Cruzeiro à Pif Paf, da Veja ao Pasquim, onde ele se tornou símbolo da imprensa alternativa e da resistência cultural à ditadura. “Millôr transforma humor em método crítico. Ele não usa a ironia como mero recurso literário, mas como estratégia política e ferramenta de sobrevivência diante da censura e como forma de expandir as possibilidades de leitura do mundo”, destaca a autora.
Ao longo da obra, Andréa evidencia como Millôr construiu uma escrita marcada pela experimentação. Neologismos, trocadilhos, versos, releituras gráficas e rupturas discursivas formam o repertório que ele utilizava tanto para driblar interditos quanto para provocar o leitor. “Ele entendia as palavras como um lugar de batalha. Para Millôr, brincar com a língua era também questionar autoridades, desmontar discursos prontos e confrontar formas sutis de censura”, analisa.
Além da dimensão estética, o livro ilumina a importância de Millôr como observador do Rio de Janeiro, especialmente de Ipanema, e das transformações da cidade na segunda metade do século XX. Suas crônicas, em especial no Pasquim, construíram uma representação da Zona Sul como metáfora do país. “Entender Millôr é também entender o Brasil, suas contradições, a vida urbana, a política e os modos de subjetivação produzidos pelo período da ditadura”, afirma Andréa.
A obra também revela aspectos pouco conhecidos de sua trajetória, como a formação autodidata e o aprendizado do jornalismo “de dentro”, começando como contínuo. “É curioso como a figura do ‘Millôr ipanemense’ muitas vezes apaga o menino suburbano. Mostrar esse percurso foi um dos meus compromissos neste trabalho”, ressalta a historiadora.
Sobre a autora: Andréa Cristina de Barros Queiroz é historiadora da UFRJ (desde 2009) e diretora da Divisão de Memória Institucional do Sistema de Bibliotecas e Informação da universidade. Pós-doutora e doutora em História Social pelo PPGHIS/UFRJ, mestre pela UFF e graduada em História pela UERJ, atua em pesquisas sobre ditadura civil-militar, censura, imprensa alternativa, memória institucional e patrimônio. Integra a Comissão da Memória e Verdade da UFRJ (desde 2018), é pesquisadora associada a diversos laboratórios da UFRJ e UERJ e uma das coordenadoras do podcast História Presente (LPPE/UERJ), premiado em 2025 pelo Memórias Reveladas do Arquivo Nacional.
Paulo Queiroz 21967364634 [email protected]
