Médica Carolina Biscaia supseita de enganar pacientes com diagnóstico falso de câncer

Um áudio revelou um momento em que a médica Carolina Fernandes Biscaia Carminatti, investigada por emitir falsos diagnósticos de câncer e indicar cirurgias desnecessárias, celebra a remoção de um suposto melanoma — um tipo de câncer de pele muito agressivo — de uma paciente. Escute o áudio acima.

“Não sei se você é católica, mas vá à igreja e agradeça a Deus. São coisas pelas quais temos que ser gratos, sabe? Agradeça, porque, como eu disse, a chance de se descobrir um melanoma nesse estágio, em que apenas ampliamos a margem e você está curada, é uma bênção […]. Você não precisa se preocupar com metástase”, declarou a médica.

Carolina, que é de Pato Branco, no sudoeste do Paraná, está sendo investigada sob a suspeita de ter usado laudos falsos de câncer de pele. De acordo com a polícia, pelo menos 22 vítimas denunciaram a médica.

O delegado Helder Lauria, responsável pelo caso, informou que 18 das 22 vítimas foram ouvidas e o inquérito está prestes a ser concluído.

Segundo o delegado, o áudio da consulta “ajuda a confirmar o que foi alegado pela vítima, pois verifica as palavras ditas pela médica”.

Até agora, a investigação descobriu que, durante as consultas, a médica examinava pintas e manchas nos pacientes e afirmava que algumas delas poderiam ser cancerígenas. Em seguida, ela removia o material e o enviava para análise em laboratório.

Na reconsulta, conforme a investigação, ela apresentava ao paciente um laudo falso com diagnóstico de câncer de pele e realizava a ampliação de margem — procedimento em que é retirada uma maior quantidade de pele na área suspeita de conter células cancerígenas.

A defesa da médica declarou nesta segunda-feira (25) que “o caso está sob sigilo judicial e, assim que for notificada, a médica cooperará com a investigação para esclarecer os fatos junto às autoridades. A profissional lamenta a situação e espera que tudo seja esclarecido”, conforme a nota.

A Conversa Gravada

 A conversa foi gravada pela vítima em janeiro de 2024. Ela realizou a gravação como precaução, pensando em repassar o material aos familiares, uma vez que ela teve melanoma em 2013 e isso se tornou um motivo de preocupação.

A vítima descobriu o diagnóstico falso após notar inconsistências no laudo apresentado por Carolina em comparação com o documento que ela obteve diretamente do laboratório. Após a descoberta, a gravação passou a ser utilizada como prova na investigação.

A pedido da médica, ela passou pelo procedimento de ampliação de margens. No caso dela, a doença falsa foi identificada na perna esquerda.

Na gravação, Carolina afirma que a vítima está com 70% de células malignas. Ela também afirma que a vítima foi imprudente e não se cuidou.

“Agora, eu sei que talvez você esteja mais preocupada com a cicatriz. Mas agora, vamos tratar essa lesão aqui e fazer tanto a ampliação radial, que é lateral, quanto a ampliação profunda. Então, isso vai deixar uma cicatriz um pouco maior, mas isso não é nada perto do que poderia ser”, disse Carolina à paciente. Na gravação, a médica também menciona que a paciente não precisa se preocupar com metástase.

“Você não precisa se preocupar com metástase, nós vamos apenas ampliar a margem aqui. Estou super feliz, estou radiante, por isso que eu falei para você passar na igreja e agradecer. A única preocupação que eu tinha é ligar e você não vir ampliar a margem o mais rápido possível”, disse Carolina, enquanto a vítima chorava. Em outro trecho da consulta, Carolina afirma que já teve melanoma e que perdeu familiares para a doença. Ela também tranquiliza a paciente pela descoberta precoce.

“Eu tenho síndrome do melanoma familiar, eu já perdi uma avó por melanoma, eu já perdi um primo por melanoma, porque Deus não deu oportunidade da gente conseguir pegar uma lesão no estágio que a gente pegou a lesão da [diz o nome da paciente]”, disse a médica.

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