
O cenário do sarampo nas Américas em 2025 acendeu um sinal de alerta para a saúde pública brasileira. Com um aumento significativo de casos confirmados em países como Estados Unidos e Canadá, superando já em abril os números totais do ano anterior segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), o risco de importação do vírus para o Brasil é considerado alto.
Apesar desse panorama preocupante, a situação interna brasileira, por enquanto, não compromete o certificado de eliminação da doença, reconquistado pelo país em 2024. Até o momento, foram confirmados apenas três casos isolados – dois bebês no Rio de Janeiro, ainda sem idade para vacinar, e um adulto no Distrito Federal com provável infecção adquirida fora do país. A Dra. Marilda Siqueira, chefe do laboratório de referência da Fiocruz/OMS, explica que a perda da certificação só ocorreria com a comprovação de transmissão sustentada do mesmo tipo de vírus por um período de um ano.
Contudo, a manutenção desse status depende diretamente da força da barreira imunológica da população. O sarampo é causado por um dos vírus mais contagiosos conhecidos, capaz de se espalhar rapidamente em comunidades com baixa cobertura vacinal – uma pessoa pode infectar outras 17. Por isso, a vigilância é constante, com notificação compulsória de suspeitas e protocolos de bloqueio vacinal em caso de confirmação.
A principal ferramenta de defesa é a vacina Tríplice Viral (sarampo, caxumba e rubéola), disponível gratuitamente no SUS. O esquema completo, com duas doses (aos 12 e 15 meses), oferece alta eficácia (93-95%). O Brasil alcançou a meta de 95% para a primeira dose em 2024, mas a cobertura da segunda dose permaneceu abaixo de 80%.
Essa lacuna na segunda dose é um ponto crítico de vulnerabilidade. Como aponta o Dr. Juarez Cunha, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a segunda aplicação corrige possíveis falhas da primeira e reforça a imunidade a longo prazo. A queda geral nas taxas de vacinação durante a pandemia agravou o cenário, aumentando o número de crianças e jovens suscetíveis. Dados recentes indicam que quase metade dos infectados nas Américas tem entre 10 e 29 anos.
É fundamental que adultos até 59 anos, que não foram vacinados ou têm dúvidas sobre seu esquema vacinal, procurem atualizar sua imunização. Mesmo que desenvolvam formas mais leves da doença, adultos podem transmiti-la para bebês menores de um ano e pessoas com sistema imunológico comprometido, que são os grupos de maior risco e não podem receber a vacina.
Luciana Phebo, do Unicef Brasil, reforça que o sarampo é um indicador sensível das falhas na vacinação. A hesitação vacinal, somada aos impactos da pandemia, representa uma ameaça real. A meta de 95% de cobertura com as duas doses é essencial para garantir a imunidade coletiva e impedir que casos importados, esperados no mundo atual, gerem novos surtos no país.