Uma nova pesquisa conduzida por cientistas da UFRJ, UERJ e UFMS está mudando a compreensão sobre a megafauna da Era do Gelo. O estudo revela que espécies como tigres-dentes-de-sabre, preguiças-gigantes e mastodontes sobreviveram por muito mais tempo do que se acreditava. Em regiões como Miranda, no Mato Grosso do Sul, fósseis datados de até 3 mil anos atrás indicam que esses gigantes encontraram refúgio na área, mesmo milhares de anos após o fim do Pleistoceno.
Extinção gradual e novas descobertas
De acordo com a professora Edna Maria Facincani, pesquisadora da UFMS, a extinção desses animais não foi abrupta, como teorias anteriores sugeriam, mas gradual, estendendo-se do início ao meio do Holoceno. As mudanças climáticas e transformações nos habitats, como o aumento da temperatura e a expansão das florestas tropicais, desempenharam papel fundamental na extinção de cerca de 80% da megafauna sul-americana.
“Essas variações paleoclimáticas são fundamentais para entendermos o passado e prevermos possíveis impactos ambientais futuros. Analisar o que aconteceu de 12 mil anos até o presente nos dá ferramentas valiosas para compreender os desafios de hoje”, explicou Edna.
Diferentemente de outros continentes, como América do Norte e Europa, o estudo indica que a ação humana não foi determinante na extinção da megafauna na América do Sul. Segundo a pesquisadora, os fósseis analisados não apresentam evidências expressivas de uso humano, como ornamentos feitos de ossos ou dentes.
Fósseis e espécies estudadas
Os fósseis utilizados na pesquisa são oriundos do Museu de Pré-História de Itapipoca (MUPHI), no Ceará, e da UFMS, e incluem animais emblemáticos como toxodontes, paleolamas e o raro Xenorhinotherium bahiensis, que apresentava características de lhama e anta. Os espécimes datam entre 8 mil e 3,3 mil anos atrás, reforçando a ideia de que a extinção ocorreu de forma não simultânea em diferentes biomas.
Entre as espécies estudadas, a anta foi destacada como um exemplo de sobrevivência e adaptação bem-sucedida na América do Sul, enquanto desapareceu na América do Norte, onde se originou. “Hoje nós só temos a anta graças ao seu processo migratório e à sua boa adaptação às condições ambientais locais”, afirmou Edna.
A pesquisa recebeu destaque internacional por oferecer uma nova perspectiva sobre a extinção da megafauna e suas causas. Ao reavaliar o impacto das mudanças climáticas e as transformações ambientais, o estudo também abre caminhos para compreender melhor os desafios ecológicos enfrentados no presente.
Essa descoberta ressalta a importância de preservarmos os ecossistemas e continuarmos investigando o passado para entender como as espécies se adaptaram ou desapareceram diante de grandes transformações ambientais. Em regiões como Mato Grosso do Sul, o legado da Era do Gelo permanece vivo, nos fósseis e nas lições que eles ainda podem ensinar.