Justiça de SP decreta prisão de policiais civis e advogado acusados de extorsão contra comerciante

A Justiça de São Paulo determinou a prisão temporária, por 30 dias, de três policiais civis e de um advogado investigados por extorquir o comerciante Rubens César Barros Oliveira, de 45 anos, proprietário de uma farmácia na zona sul da capital.

Foram detidos o policial Marco Aurélio Scheffer, 55, e os investigadores Jorge Oriel Pereira do Valle, 44, e Rodrigo Franco Sittinieri, 33. Eles são acusados de manter o comerciante em cárcere, algemá-lo, ameaçá-lo e exigir R$ 150 mil para que não fosse preso, sob a alegação de comércio ilegal de medicamentos de uso controlado. O advogado Nilson Ribeiro Nunes também foi preso, apontado como intermediário da negociação criminosa.

Como ocorreu a abordagem

Segundo a Corregedoria da Polícia Civil, no dia 18 de junho, Rubens recebeu uma solicitação para entregar um medicamento controlado na avenida Santa Catarina, 935, Vila Mascote. Ao chegar ao local, foi surpreendido por cinco homens que se apresentaram como policiais. Um deles anunciou: “perdeu, perdeu”.

O comerciante foi revistado, algemado, teve celulares e a chave da moto apreendidos, e foi levado ao 96º Distrito Policial (Monções), onde permaneceu uma hora e quinze minutos incomunicável. Durante esse tempo, os policiais teriam exigido a senha do celular e ameaçado colocá-lo em uma cela caso não colaborasse.

O esquema de cobrança

De acordo com a investigação, os agentes condicionaram a libertação imediata de Rubens ao pagamento de R$ 10 mil no mesmo dia e mais R$ 15 mil dois dias depois, enquanto o valor restante deveria ser pago em até 40 dias.

Familiares do comerciante se mobilizaram e conseguiram parte do montante. O advogado Nilson teria repassado R$ 14.300,00 aos policiais no dia 18, garantindo que o comerciante seria solto e recuperaria os pertences apreendidos. No dia 20 de junho, a esposa de Rubens entregou os R$ 10.700,00 restantes da primeira parcela.

Ainda assim, no dia 7 de julho, Nilson voltou a pressionar a vítima, afirmando que, se os outros R$ 25 mil não fossem pagos, Rubens “sofreria as consequências”.

Provas e gravações

As acusações ganharam força porque o comerciante gravou conversas com o advogado e entregou os áudios à Corregedoria, além de comprovantes bancários dos valores retirados pela família para pagar a quantia exigida.

O Ministério Público de São Paulo apoiou o pedido de prisão temporária, que foi aceito pela juíza Arielle Escandolhero Martinho em 18 de agosto. Os acusados foram detidos uma semana depois.

Busca na farmácia

Em outro episódio, Rubens foi novamente algemado e levado até sua farmácia. No local, os policiais revistaram o estabelecimento e recolheram medicamentos — controlados e comuns — além do DVR das câmeras de segurança. Nenhum desses itens, porém, foi oficialmente registrado em apreensão no 96º DP.

A esposa de Rubens, preocupada com a situação, procurou o advogado Nilson, cujo escritório fica no mesmo prédio da farmácia. Ele teria reforçado a gravidade do caso e dito que o comerciante poderia ficar preso por sete dias se não pagasse. O valor inicial exigido, de R$ 150 mil, acabou reduzido para R$ 50 mil, a serem pagos em duas parcelas de R$ 25 mil.

Defesa

Até o momento, a reportagem não conseguiu contato com os advogados dos policiais civis e do advogado detido. O espaço segue aberto para manifestação da defesa, e o texto será atualizado caso haja posicionamento oficial.

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