
Roberto Justus, empresário que consolidou sua imagem pública associada à meritocracia e a práticas rigorosas de compliance, atravessa atualmente um período de maior escrutínio. Associações societárias recentes e operações financeiras estruturadas passaram a ser analisadas sob uma nova perspectiva, na qual o discurso de transparência contrasta com parcerias envolvendo empresas investigadas e transações imobiliárias que despertam controvérsia.
Com a repercussão do caso Banco Master, a atenção voltou-se para a relação entre Justus, Daniel Vorcaro e o chamado ecossistema Master. O vínculo entre o empresário e o banqueiro, hoje preso e controlador do Banco Master, extrapolou a cordialidade institucional. Ambos figuraram como sócios em projetos que captaram volumes relevantes de recursos, amparados por promessas de inovação e incentivos públicos. Contudo, a distância entre as expectativas divulgadas e os resultados efetivamente entregues levou investidores a questionarem, até hoje, o papel desempenhado por cada sócio diante do fracasso operacional dessas iniciativas.
Esse padrão de interconexões reaparece em estruturas como a NEST Investimentos e a SteelCorp, nas quais interesses ligados a Roberto Justus orbitam instituições associadas a Vorcaro. Tal contexto levanta dúvidas sobre se o empresário adota, em seus negócios privados, o mesmo nível de rigor que costuma defender publicamente em seus programas televisivos.
O episódio mais recente envolve a SteelCorp — anteriormente conhecida como Steel Frame — que passou a enfrentar uma crise reputacional. Até setembro de 2025, a REAG Investimentos detinha 30% da companhia. A gestora tornou-se alvo da Operação Carbono Oculto, conduzida pela Polícia Federal, que investiga um suposto esquema bilionário de fraudes e lavagem de dinheiro. Em nota oficial e em entrevistas concedidas à IstoÉ Dinheiro (09/2025), a SteelCorp anunciou o distrato societário com a REAG. “Somos gratos pelo apoio inicial, mas hoje não mantemos mais sociedade após os acontecimentos recentes”, afirmou a empresa. Ainda assim, a vinculação prévia a uma gestora cujo crescimento patrimonial agora é investigado reacende questionamentos sobre o processo de due diligence adotado no início da parceria.
Na NEST Investimentos, da qual Justus é sócio desde 2017, as atenções se voltam à governança de aplicações que envolveram recursos públicos. Em materiais institucionais, o empresário declara ter confiado seu patrimônio à gestora por acreditar em uma estratégia pautada pelo retorno ajustado ao risco. Entretanto, a NEST passou a ser alvo de críticas após exposições a ativos do Banco Master que resultaram em impactos negativos ao Rioprevidência. Diante disso, surge o questionamento sobre eventuais revisões internas de governança promovidas por Justus, especialmente após prejuízos que afetaram aposentados e os cofres públicos do Estado do Rio de Janeiro.
Documentos de securitização também revelam uma operação de crédito atípica envolvendo a NEST: um financiamento de R$ 22 milhões, lastreado em imóveis localizados no condomínio de alto padrão Helvétia e em cotas de fundos administrados pela Galapagos Capital. O elemento mais sensível da operação é a existência de um compromisso de recompra assinado pessoalmente por Roberto Justus. A garantia direta do empresário atrela seu patrimônio à liquidez do negócio, indicando que, sem essa salvaguarda pessoal, a operação possivelmente não se sustentaria dentro de parâmetros tradicionais de mercado.
A recorrência de nomes como Daniel Vorcaro e REAG nas estruturas associadas ao empresário reforça um debate inevitável: até que ponto os critérios de seleção de parceiros adotados por Roberto Justus refletem o rigor que ele costuma exigir publicamente em seus discursos sobre gestão, meritocracia e governança corporativa.
